segunda-feira, 10 de julho de 2017

TRISTEZA, DOR E LUTO


Regresso hoje à base – leia-se: casa de habitação – depois de sexta, sábado e domingo particularmente difíceis, sofridos e bem doridos em Viseu primeiro, na sexta (7), com a morte no hospital local da nossa querida e já saudosa Tia Tina e também o velório em Fataunços; depois, no sábado (8), com o seu muito sentido funeral no cemitério da freguesia; e, depois o domingo, com a preocupação de filhos e familiares mais chegados com o bem-estar do nosso Tio Zé, agora sem a sua fiel e dedicada companheira de toda a vida.

Dias muito duros e particularmente sentidos por todos e preocupações mil agora com a vida física, psicológica e emocional do nosso Tio Zé… Não é, sem grande e difícil sofrimento, que se passa tão dramática fase da vida e os seus 91 anos exigem e justificam toda a nossa mais completa atenção.

Seguindo desde há muito a minha “máxima” que os mortos devem enterrar-se e todas as preocupações devem recair de imediato sobre os vivos, foi meu cuidado naquela hora tão dramática no parque de estacionamento do hospital de Viseu encontrar-me e saber do “estar” do amigo Tio Zé, em hora tão complicada. De imediato fiz questão de o procurar e verificar o seu estado e devo dizer que fiquei agradavelmente surpreendido – se é que o adjectivo aqui deve ser utilizado… - com a calma e a bonita serenidade que aparentou ao meu cumprimento/alento: calmo, de rosto fechado mas sereno encolheu-me os ombros, olhou-me e, em lamento, disse: 
- É isto… É assim… Que se há-de fazer? Custa muito mas… que fazer?

Fiquei, confesso, um pouco aliviado a ver a maneira com reagiu a tremendo infortúnio. No momento único da sua vida em que sabe que perdeu para todo o sempre a companheira amiga e dedicada de toda a vida, Tio Zé, numa postura serena e calma, talvez fosse naquela hora o mais sereno, o mais calmo e consciente de todos nós… Muito bonito, gratificante e grande exemplo para nós, mais novos, menos experientes, mais excitados e menos serenos. 

Tia Tina, a matriarca da família, deixa-nos o seu exemplo de vida de mulher de muito trabalho, enorme dedicação à família e aos amigos, esforçada em dose maior na criação dos filhos e até dos sobrinhos, sempre pronta a ajudar tudo e todos e com uma vida exemplar de dignidade e verticalidade que aqui importa e deve ser realçada!

Membro da sua família desde 1972, desde cedo me habituei a ver e encontrar na Tia Tina e no Tio Zé mãos e ombros amigos em que muitas vezes vi apoiarem-se tudo e todos mas, sobretudo e muito principalmente, filhos e familiares mais chegados. Tanto nele, quanto nela, sempre todos encontraram ali a ajuda, o apoio e o alento para vencerem obstáculos mais difíceis de transpor.

Não resisto mesmo em aqui deixar registada uma atitude de enorme verticalidade e coragem assumida pelo amigo casal quando, perante o gesto estúpido de uma acção em tribunal colocada por um irmão contra outro, no caso seus sobrinhos e em cuja umas das partes eu estava envolvido como réu - numa situação em que tinha absoluta e completa razão! - e perante a forma enviesada e errada como a justiça estava a analisar a situação, que levaria a que quem tinha razão seria condenado, Tia Tina e Tio Zé, postos ao corrente da situação e conhecendo muito bem a realidade e a verdade dos factos, aceitaram ser testemunhas de defesa de uma das partes (a minha) e, perante a sentença errada e estúpida e a eminência de a mesma passar a efectiva, não hesitaram a chamar a outra parte, “encostá-la à parede” e, corajosamente, sentenciarem ao outro seu sobrinho, autor na mal intencionada acção:
- Ou tu tiras imediatamente a acção do tribunal, ou nunca mais entras na nossa casa! 

Assim mesmo! Sem rodeios, cara a cara, com muita coragem e verticalidade, assumiram a defesa da verdade e da justiça e puseram-se claramente numa posição de defesa de um sobrinho contra o outro que a não merecia.
Pela verdade! Pela justiça! Com louvável e impressionante verticalidade! 

Por esta posição e pelas muitas e muitas provas de amizade e até caridade que, dignamente, ao longo de toda uma vida assumiram em prol de amigos e familiares e de que sou testemunha, tenho pela Tia Tina e Tio Zé a máxima estima e o maior carinho e, vê-la agora partir, é dor imensa e profunda. Muito profunda!

Que descanse em paz e que seja possível o nosso Tio Zé ultrapassar, o menos dorido possível, esta situação tão complicada e difícil da sua longa vida!

Ele merece!

Ele terá de a ultrapassar!

(Deixo duas fotos, distantes no tempo de apenas oito meses, onde  podemos comprovar como nesse curto período a imagem da nossa Tia Tina se deteriorou, sendo que esta, foi a última foto que lhe tirei.)

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